Nesse dia 30 de abril de 2025, na sala de tutoria da OTICS Bangu, tivemos a coleta de dados para a pesquisa, “Cuidado integral às situações de aborto na Atenção Primária à Saúde no Sistema Único de Saúde(SUS)”. O público alvo serão os profissionais atuantes na Atenção Primária a Saúde (APS) do município do Rio de Janeiro, a participação se deu mediante inscrição prévia. Os assuntos abordados foram, a coleta de dados para a referida pesquisa. A pesquisa “Cuidado integral às situações de aborto na Atenção Primária à Saúde no Sistema Único de Saúde” é uma iniciativa do Grupo de Pesquisa Gênero, Reprodução e Justiça/RepGen, formado por pesquisadoras de diversas instituições de ensino e pesquisa do país, e coordenado pelas doutoras Claudia Bonan, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz), e Andreza Rodrigues, da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ). A coordenação executiva do projeto conta ainda com as pesquisadoras Adriana Coser (Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz), Luanda Lima (ABRASCO), Melanie Maia (Departamento de Medicina em Atenção Primária à Saúde/UFRJ) e Nanda Duarte (IFF/Fiocruz).
O objetivo desta pesquisa é analisar relatos de profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) sobre suas experiências de atenção às situações de aborto e compreender questões que afetam o entendimento e as práticas desses profissionais no cuidado às mulheres e pessoas que podem gestar, nessas situações. O projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa do IFF/Fiocruz, sendo autorizado pelo Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE) 80219424.2.0000.5269.

O abortamento representa um grave problema de saúde pública, com maior incidência em países em desenvolvimento, sendo uma das principais causas de mortalidade materna no mundo, inclusive no Brasil. sua discussão, notadamente passional em muitos países, envolve uma intricada teia de aspectos legais, morais, religiosos, sociais e culturais. Vulnerabilidades como desigualdade de gênero, normas culturais e religiosas, desigualdade de acesso à educação, e múltiplas dimensões da pobreza – com a falta de recursos econômicos e de alternativas, a dificuldade de acesso a informação e direitos humanos, a insalubridade, dentre outros – fazem com que o abortamento inseguro atinja e sacrifique, de forma mais devastadora, mulheres de comunidades pobres e marginalizadas.
O abortamento espontâneo ocorre em aproximadamente (10 a 15%) das gestações e envolve sensações de perda, culpa pela impossibilidade de levar a gestação a termo, além de trazer complicações para o sistema reprodutivo, requerendo uma atenção técnica adequada, segura e humanizada. outros 10% dos abortamentos atendidos em nossos hospitais são provocados pelas mais diferentes formas, já que, para um grande contingente de mulheres, o abortamento resulta de necessidades não satisfeitas de planejamento reprodutivo, envolvendo a falta de informação sobre anticoncepção, dificuldades de acesso aos métodos, falhas no seu uso, uso irregular ou inadequado, e/ou ausência de acompanhamento pelos serviços de saúde. é preciso destacar que, para muitas mulheres, a gestação que motiva o abortamento resulta de violência sexual, seja por desconhecido, seja cometida pelo parceiro ou outro membro em âmbito doméstico e/ou intrafamiliar.

Aspectos culturais, religiosos, legais e morais inibem as mulheres a declararem seus abortamentos, dificultando o cálculo da sua magnitude. Independente dessa dificuldade, sabe-se que o abortamento é praticado com o uso de meios diversos, muitas vezes induzidos pela própria mulher ou realizados em condições inseguras, em geral acarretando consequências danosas à saúde, podendo, inclusive, levar à morte. O informe de outubro de 2008, do instituto Guttmacher, aponta como métodos usuais em abortamentos inseguros a inserção de preparos herbais na vagina, chás, saltos de escadas ou telhados, o uso de paus, ossos de frango, dentre outros objetos de risco.
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde, metade das gestações é indesejada, com uma a cada nove mulheres recorrendo ao abortamento para interrompê-las. De acordo com dados recentes do instituto Guttmacher de Washington, D.C. – EUP, o número de abortos induzidos no mundo caiu de 45,6, em 1995, para 41,6 milhões, em 2003. A queda nos índices foi mais drástica em países desenvolvidos, caindo de 10 milhões, em 1995, para 6,6 milhões em 2003. Na Europa, o número caiu de 7,7 milhões para 4,3 milhões. A queda mais acentuada se deu no leste europeu, onde o aborto já é seguro e descriminalizado, na maioria dos países. Houve decréscimo de 90 para 44 na proporção de abortamentos a cada 1.000 mulheres entre 15 e 44 anos (tHe aLan GUttmaCHer institUte, 2008).
Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_humanizada_abortamento_norma_tecnica_2ed.pdf